segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Dezembro

Pegou no telemóvel, marcou o número e parou. Ficou surpreendida por ainda o saber de cor. Já tonha passado algum tempo desde a última chamada, dois ou três anos, mas precisava de ouvir a sua voz. Já não partilhavam a mesma cidade e os encontros casuais na rua já não eram possíveis.
Respirou fundo e premiu "ligar".
- Estou?
- Hey, sou eu...
- Como estás? 
- Bem, e tu?
- Também.
Houve um momento de silêncio que ele quebrou.
- Vemo-nos em Dezembro?
- Não sei se consigo, está um bocado complicado...
- Gostava que fosses.
- Vou tentar. Sabes, hoje vi-te na rua.
- Como? Estás cá?
- Não, mas vi-te. Eu sei que não eras tu mas ele era mesmo parecido contigo! Passei o dia a pensar em ti.
- Também te vejo às vezes. É estranho, mas o dia passa sempre mais devagar...
- Tens planps para a passagem de nao?
- Não, e tu? 
- Também não.
- Posso fazer-te um convite?
- O que pode ser melhor do que ficar em casa a ver a contage, decrescente na TV?
- Combino algo com o grupo de sempre, uma espécie de reunion, bebemos uns copos todos juntos, pomos a conversa em dia, e quando faltarem 10 minutos para a meia-noite saímos discretamente. Há um sítio que te quero mostrar.
- Uma noite muito semelhante a muitas outras, portanto.
- Prometo levar uma garrafa de champanhe e fazemos a nossa contagem decrescente.
- E eles não vão notar a nossa falta e fazer perguntas inconvenientes?
- Com sorte vão estar com um grau jeitoso e fingimos ter estado lá. Se não funcionar logo se vê, inventamos bem sob pressão.
- O normal, então. Parece-me bem. Achas que eles ainda acreditam nas nossas desculpas?
- Acho que não, pelo menos não todos. Faz alguma diferença?
- Sinceramente deixei de me importar há algum tempo. Limito-me a desaparecer quando as perguntas ficam demasiado...específicas.
- Pois, já reparei. Fico sempre sozinho nessas alturas!
Sorriram os dois em silêncio e não disseram nada durante alguns segundos. Desta vez foi ela a quebrar o silêncio.
- Tenho de desligar. Vemo-nos em Dezembro, nem que seja só no dia 31.
- Obrigado per teres ligado.
Desligou o telemóvel e ficou imóvel a olhar pela janela. Sentiu o coração acelerar. Ele ainda pensava nela, ele tinha um plano delineado para estarem a sós. Eles iam estar juntos mais uma noite. Pelo menos mais uma. Todo o esforço para o tirar do pensamento tinha ido por água a baixo. Percebeu que ainda o amava.
Secalhar está na hora de lhe dizer, pensou.

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