sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

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Ele acordou com o primeiro raio de sol e em silêncio dirigiu-se à cozinha. Fez sumo de laranja, torradas com doce de morango, ligou a máquina de café e foi acordá-la com um beijo.
- Acorda, princesa! Fiz-te o pequeno-almoço.
- Bom dia, meu amor... - respondeu ainda ensonada.
- Tenho de sair agora. Vou buscar-te ao emprego, almoçamos com o resto do pessoal e à tarde tenho uma surpresa para ti.
Deu-lhe outro beijo e foi para o escritório. Hoje é o dia em que comemoram um ano juntos. Vai ser uma comemoração secreta já que para o resto do mundo estão juntos há cerca de quatro ou cinco meses - nunca foram muito específicos para não serem apanhados na mentira - mas deixar este dia passar em branco está fora de questão. Não escondem a verdade por maldade, simplesmente não se sentem na obrigação de dar satisfações. Assumiram a relação quando acharam apropriado. Por não saberem da verdade, os seus amigos torceram o nariz quando disseram que iam morar juntos aos supostos três meses de namoro, ou que estavam a pensar em emigrar para os Estados Unidos no próximo ano.
Durante o almoço ela não conseguiu esconder o sorriso que tinha na cara desde que acordou e ele muito menos. Todos repararam mas ninguém se atreveu a duvidar do "nada, está um dia bonito, é só.", aprenderam que com eles não vale a pena, dizem o que tiverem a dizer quando acharem necessário e nunca antes disso.
Despediram-se com um até amanhã e ele mostrou-lhe todos os recantos da cidade que só há pouco tempo passou a pertencer aos dois. Viram o lago que no inverno se transforma em ringue de patinagem e no verão se transforma numa piscina de água transparente, levou-a à pastelaria com o melhor muffin de mirtilos que se esconde entre uma loja de antiguidades e uma biblioteca centenária, subiram todas as ruelas e desceram todos os becos. Ao pôr-do-sol sentaram-se na varanda da torre da cidade e viram-na passar por todos os tons de laranja possíveis até se render à escuridão.
No caminho para casa ela bebeu um chocolate quente e ele comeu uma bola de gelado. Eles são muito parecidos, mas quando aparecem algumas diferenças, são sempre situações inesperadas.
Ao chegar a casa ela reparou na cama cheia de pétalas de rosas vermelhas. Ele levou-a ao colo para o quarto e tirou-lhe a roupa lentamente. Por uns momentos conseguiram ler os pensamentos um do outro e estiveram em perfeita sintonia.
Abraçados na cama e antes de serem invadidos pelo sono ela permitiu-se pensar em voz alta.
- Um dia vão descobrir a verdade.
- Talvez não.
- E se um dia, depois de uma discussão mais acesa, eu desabafar algo como "depois de ano e meio de namoro ainda faz o mesmo" ?
- Hum... Nova regra: discussões sérias só depois do casamento. A tua mãe não te educou com palavras semelhantes?
- Sim, exactamente. Acho que ficaria orgulhosa se soubesse!
- Eu bem sabia... Mas não te preocupes, ninguém se interessa por esses detalhes. Só para prevenir escolhe o mês da versão oficial.
- Junho.
- Gosto. Junho soa bem...
- Quer isto dizer que temos direito a dois aniversários por ano?
- Só se dividirmos a responsabilidade do pequeno-almoço na cama!
- Combinado.